Bom, estou escrevendo um conto. Como ainda está em produção, críticas e sugestões são muito bem-vindas.
Por enquanto, tenho a parte I e II dele, e pretendo toda sexta-feira postar mais uma parte, até a conclusão.
Ele está no: http://quasenirvana.wordpress.com/
Eis a parte I:
Chovia. Fora da casa e dentro de Samuel. Não, mais que isso: dentro dele trovejava, relampejava, sufocava e abafava qualquer som que ele ousasse tentar pronunciar. Ele sentia dor. Nem física, nem psicológica. Só a dor, atemporal e inexistente. Seu coração ardia com o vazio de sua existência. E então o torpor. Ele nada sentia, e ainda assim a dor excruciante penetrava cada uma de suas células, entrando em seu DNA e retirando cada rastro do que um dia ele foi.
Ele permanecia sentado no sofá há mais de 20 minutos. Nos últimos seis, encarava o copo de água posicionado orquestralmente no centro da mesinha à frente. Toda sentimental, gelada e expansiva, a água começava a formar gotas fora do copo. Ele sentiu inveja de cada gota que se rendia ao exterior, anunciando sua liberdade e posterior morte. Não uma morte propriamente dita, mas a inexistência. Ou a não-existência. O deixar de ser.
Sentia inveja do frio que percorria cada molécula de H2O, um sentimento que esquecera há muito. A água anunciava, ou melhor, gritava que era mais viva do que ele. Mais interessante e útil, menos desprezível e inoportuna. Mais significante. Se a água acabasse no mundo, todos sentiriam a falta imediata dela. Dele, ninguém lembraria. Ninguém sequer sentiria falta, e, se muito, ele seria uma memória distante na mente de alguém tão desprezível como ele. Ele não viveria para sempre através das palavras de ninguém, e muito menos através das dele. Se ao menos tivesse escrito um livro, ou plantado uma árvore… sua ínfima existência estaria registrada nesse mundo. Mas nada.
Ele não havia ajudado ninguém a ponto de ser uma memória viva e imediata, e nada fez pelo mundo que pudesse ser notado. Nunca manteve uma relação – amistosa ou amorosa – por mais de um ano. Com a morte dos pais e a herança ridiculamente absurda, ele abandonou o resto de família que tinha. Sempre esteve em constante mudança, conhecendo o mundo. O problema é que o mundo não o conheceria.
Se ele pudesse se lembrar de pelo menos uma pessoa… qualquer pessoa que possa se lembrar dele pro resto da vida, ou mesmo anunciá-lo para o mundo… seria um alívio. Ah, claro! Havia a Paula, de quem ele tirou a virgindade. Mas, considerando que ela tinha gostado tanto do ato que transou com mais sete (entre meninos e meninas) no mesmo mês, ela provavelmente não se lembraria dele em especial.
Bom, teve aquele mendigo a quem ele deu uma nota de cem quando estava bêbado. Será que conta? É possível que não conte. Mas, na mesma noite, enquanto dirigia, ocasionou um acidente de trânsito, que terminou tragicamente na morte de duas pessoas. Talvez esse seja o momento que defina o início de sua queda. Essa noite específica. E, certamente, não era por isso que ele queria ser lembrado.
***
Por enquanto, tenho a parte I e II dele, e pretendo toda sexta-feira postar mais uma parte, até a conclusão.
Ele está no: http://quasenirvana.wordpress.com/
Eis a parte I:
Chovia. Fora da casa e dentro de Samuel. Não, mais que isso: dentro dele trovejava, relampejava, sufocava e abafava qualquer som que ele ousasse tentar pronunciar. Ele sentia dor. Nem física, nem psicológica. Só a dor, atemporal e inexistente. Seu coração ardia com o vazio de sua existência. E então o torpor. Ele nada sentia, e ainda assim a dor excruciante penetrava cada uma de suas células, entrando em seu DNA e retirando cada rastro do que um dia ele foi.
Ele permanecia sentado no sofá há mais de 20 minutos. Nos últimos seis, encarava o copo de água posicionado orquestralmente no centro da mesinha à frente. Toda sentimental, gelada e expansiva, a água começava a formar gotas fora do copo. Ele sentiu inveja de cada gota que se rendia ao exterior, anunciando sua liberdade e posterior morte. Não uma morte propriamente dita, mas a inexistência. Ou a não-existência. O deixar de ser.
Sentia inveja do frio que percorria cada molécula de H2O, um sentimento que esquecera há muito. A água anunciava, ou melhor, gritava que era mais viva do que ele. Mais interessante e útil, menos desprezível e inoportuna. Mais significante. Se a água acabasse no mundo, todos sentiriam a falta imediata dela. Dele, ninguém lembraria. Ninguém sequer sentiria falta, e, se muito, ele seria uma memória distante na mente de alguém tão desprezível como ele. Ele não viveria para sempre através das palavras de ninguém, e muito menos através das dele. Se ao menos tivesse escrito um livro, ou plantado uma árvore… sua ínfima existência estaria registrada nesse mundo. Mas nada.
Ele não havia ajudado ninguém a ponto de ser uma memória viva e imediata, e nada fez pelo mundo que pudesse ser notado. Nunca manteve uma relação – amistosa ou amorosa – por mais de um ano. Com a morte dos pais e a herança ridiculamente absurda, ele abandonou o resto de família que tinha. Sempre esteve em constante mudança, conhecendo o mundo. O problema é que o mundo não o conheceria.
Se ele pudesse se lembrar de pelo menos uma pessoa… qualquer pessoa que possa se lembrar dele pro resto da vida, ou mesmo anunciá-lo para o mundo… seria um alívio. Ah, claro! Havia a Paula, de quem ele tirou a virgindade. Mas, considerando que ela tinha gostado tanto do ato que transou com mais sete (entre meninos e meninas) no mesmo mês, ela provavelmente não se lembraria dele em especial.
Bom, teve aquele mendigo a quem ele deu uma nota de cem quando estava bêbado. Será que conta? É possível que não conte. Mas, na mesma noite, enquanto dirigia, ocasionou um acidente de trânsito, que terminou tragicamente na morte de duas pessoas. Talvez esse seja o momento que defina o início de sua queda. Essa noite específica. E, certamente, não era por isso que ele queria ser lembrado.
***