Para começar, só por uma questão de curiosidade mesmo. Um monte de gente fala que escrever bem é cortar palavras. Mas por ai vemos muitos livros com mais adjetivos preenchendo as frases (e vejo muitos textos assim pela internet também). O que vocês pensam sobre esse assunto?
5 participantes
Produção narrativa
Leonardo Schabbach- Admin
- Mensagens : 879
Data de inscrição : 20/02/2010
Idade : 37
Localização : Rio de Janeiro
- Mensagem nº1
Produção narrativa
Criei o tópico para discutirmos algumas questões narrativas, acho que pode ser bem interessante. Pelo menos eu acho que poderia dividir algumas opiniões com o pessoal e também aprender com as visões e processos de cada um.
Para começar, só por uma questão de curiosidade mesmo. Um monte de gente fala que escrever bem é cortar palavras. Mas por ai vemos muitos livros com mais adjetivos preenchendo as frases (e vejo muitos textos assim pela internet também). O que vocês pensam sobre esse assunto?
Para começar, só por uma questão de curiosidade mesmo. Um monte de gente fala que escrever bem é cortar palavras. Mas por ai vemos muitos livros com mais adjetivos preenchendo as frases (e vejo muitos textos assim pela internet também). O que vocês pensam sobre esse assunto?
Isie Fernandes- Mensagens : 516
Data de inscrição : 04/03/2010
Idade : 42
Localização : Bahia
- Mensagem nº2
Re: Produção narrativa
Hum! Para mim, escrever bem não depende apenas de cortar palavras, mas de usá-las com propósito e sentido, na medida.
Tiago Lobo- Mensagens : 32
Data de inscrição : 25/03/2010
- Mensagem nº3
Re: Produção narrativa
Na minha opinião, o escritor que pensa que "escrever bem é cortar palavras" se boicota. Se limita. O Stephen King já disse algo parecido, mas em outro contexto. O processo criativo dele se resume em escrever, ler, cortar, reescrever, ler cortar e etc. Mas não dá pra pensar que ele lê seus textos pensando em cortar tudo o que puder.
Existem coisas que podem, e devem, ser cortadas de um texto. Falo de redundâncias, explicações que ofendam a inteligência do leitor, trechos enfadonhos, frases prolixas, erros de coerência, frases que gerem cacofonia, repetição e uso demasiado de termos (aí entram os advérbios, artigos indefinidos, alguns pronomes e os adjetivos). Pontuação que interrompa o fluxo da leitura, uso exagerado de parênteses, vírgulas, travessões (quando fora do contexto de fala).
Em suma tem muita coisa que se pode cortar, mas é preciso, antes de qualquer coisa que o autor respeite seu próprio estilo de escrita. Se você gosta, por exemplo, de abusar de vírgulas e sabe usá-las: nenhum problema. Nada errado, só cuidado pra manter uma leitura agradável ao leitor.
O problema que tenho notado nessa mania "moderna" de cortar é que os textos acabam partindo de fórmulas "quase científicas" para o desenvolvimento de uma suposta literatura. Fica muito pasteurizado. E essa mania e cortar tudo é, essencialmente, de contistas que não entenderam, ainda, a proposta desse gênero da prosa.
Abraços.
Existem coisas que podem, e devem, ser cortadas de um texto. Falo de redundâncias, explicações que ofendam a inteligência do leitor, trechos enfadonhos, frases prolixas, erros de coerência, frases que gerem cacofonia, repetição e uso demasiado de termos (aí entram os advérbios, artigos indefinidos, alguns pronomes e os adjetivos). Pontuação que interrompa o fluxo da leitura, uso exagerado de parênteses, vírgulas, travessões (quando fora do contexto de fala).
Em suma tem muita coisa que se pode cortar, mas é preciso, antes de qualquer coisa que o autor respeite seu próprio estilo de escrita. Se você gosta, por exemplo, de abusar de vírgulas e sabe usá-las: nenhum problema. Nada errado, só cuidado pra manter uma leitura agradável ao leitor.
O problema que tenho notado nessa mania "moderna" de cortar é que os textos acabam partindo de fórmulas "quase científicas" para o desenvolvimento de uma suposta literatura. Fica muito pasteurizado. E essa mania e cortar tudo é, essencialmente, de contistas que não entenderam, ainda, a proposta desse gênero da prosa.
Abraços.
Leonardo Schabbach- Admin
- Mensagens : 879
Data de inscrição : 20/02/2010
Idade : 37
Localização : Rio de Janeiro
- Mensagem nº4
Re: Produção narrativa
Tiago Lobo escreveu:Na minha opinião, o escritor que pensa que "escrever bem é cortar palavras" se boicota. Se limita. O Stephen King já disse algo parecido, mas em outro contexto. O processo criativo dele se resume em escrever, ler, cortar, reescrever, ler cortar e etc. Mas não dá pra pensar que ele lê seus textos pensando em cortar tudo o que puder.
Existem coisas que podem, e devem, ser cortadas de um texto. Falo de redundâncias, explicações que ofendam a inteligência do leitor, trechos enfadonhos, frases prolixas, erros de coerência, frases que gerem cacofonia, repetição e uso demasiado de termos (aí entram os advérbios, artigos indefinidos, alguns pronomes e os adjetivos). Pontuação que interrompa o fluxo da leitura, uso exagerado de parênteses, vírgulas, travessões (quando fora do contexto de fala).
Em suma tem muita coisa que se pode cortar, mas é preciso, antes de qualquer coisa que o autor respeite seu próprio estilo de escrita. Se você gosta, por exemplo, de abusar de vírgulas e sabe usá-las: nenhum problema. Nada errado, só cuidado pra manter uma leitura agradável ao leitor.
O problema que tenho notado nessa mania "moderna" de cortar é que os textos acabam partindo de fórmulas "quase científicas" para o desenvolvimento de uma suposta literatura. Fica muito pasteurizado. E essa mania e cortar tudo é, essencialmente, de contistas que não entenderam, ainda, a proposta desse gênero da prosa.
Abraços.
Muito interessante sua visão. Eu também não sou muito fã desta regra de "cortar palavras". É claro que é natural, na hora da revisão de um texto, que você corte muitas coisas, assim você pode deixá-lo mais próximo da perfeição. Mas, como você disse, é cortar coisas desnecessárias. Muitos autores tem produzido textos por demasiados secos por causa disso. Fica escrito direitinho até, mas não causa nada em que lê, falta alguma coisa; na minha opinião, perde-se muito valor literário.
Por outro lado, há autores de prosa bem seca que considero fantásticos. Já citei ele aqui várias vezes, mas o Gonçalo Tavares é um deles (ele tem uma série de livros de contos O Bairro). Enfim, no final depende do estilo de cada um, depende também da própria história, das personagens, se é em primeira pessoa a narração ou não. Há muita coisa a ser considerada.
Tiago Lobo- Mensagens : 32
Data de inscrição : 25/03/2010
- Mensagem nº5
Re: Produção narrativa
Um autor com uma prosa bem seca é o Asimov, eu acho. E o cara é muito bom.
Eu defendo: tu pode cortar teu texto, condensar e etc, mas não perca o foco narrativo, o estilo da escrita e afins.
Mês passado entrei em uma acalourada discussão acerca do que define um conto. Percebi que a maioria das pessoas pensa que um conto é uma narrativa curta, quando não é. Aí fui explicar pro pessoal... São autores novos, alguns sem qualquer experiência (o que não deprecia sua literatura), portanto admiti que gostariam de aprender. Ledo engano, ingrata supresa.
Acabamos debatendo sobre teoria do conto, da qual a maioria do pessoal não conhecia e eu identifiquei uma coisa enquanto explicava um tantinho sobre as teorias do Poe e do Tchekóv.
Quando falamos em *brevidade, concisão, unidade de efeito e clímax* o pessoal começa a picotar seus textos curtos (que não são contos), para ficarem mais curtos, na tentativa de se adequar ao gênero. Esse é outro erro corrente. Então eu parto do pressuposto de que boa Literatura é diretamente proporcional a sensibilidade criativa.
Existem autores que nunca estudaram literatura e são ótimos, mas não fazem a regra. E não devemos ser prepotentes a ponto de pensar que não precisamos de estudo.
Então eu acho que mais importante do que cortar palavras é estudar pra entender a ferramenta (palavra escrita) e o meio de comunicação (impresso/livro) que se pretende utilizar pra gerar uma sensação no leitor. Feito isso, acho que o produto final só tende a se beneficiar.
Eu defendo: tu pode cortar teu texto, condensar e etc, mas não perca o foco narrativo, o estilo da escrita e afins.
Mês passado entrei em uma acalourada discussão acerca do que define um conto. Percebi que a maioria das pessoas pensa que um conto é uma narrativa curta, quando não é. Aí fui explicar pro pessoal... São autores novos, alguns sem qualquer experiência (o que não deprecia sua literatura), portanto admiti que gostariam de aprender. Ledo engano, ingrata supresa.
Acabamos debatendo sobre teoria do conto, da qual a maioria do pessoal não conhecia e eu identifiquei uma coisa enquanto explicava um tantinho sobre as teorias do Poe e do Tchekóv.
Quando falamos em *brevidade, concisão, unidade de efeito e clímax* o pessoal começa a picotar seus textos curtos (que não são contos), para ficarem mais curtos, na tentativa de se adequar ao gênero. Esse é outro erro corrente. Então eu parto do pressuposto de que boa Literatura é diretamente proporcional a sensibilidade criativa.
Existem autores que nunca estudaram literatura e são ótimos, mas não fazem a regra. E não devemos ser prepotentes a ponto de pensar que não precisamos de estudo.
Então eu acho que mais importante do que cortar palavras é estudar pra entender a ferramenta (palavra escrita) e o meio de comunicação (impresso/livro) que se pretende utilizar pra gerar uma sensação no leitor. Feito isso, acho que o produto final só tende a se beneficiar.
Isie Fernandes- Mensagens : 516
Data de inscrição : 04/03/2010
Idade : 42
Localização : Bahia
- Mensagem nº6
Re: Produção narrativa
Oi, Tiago!
A questão Conto sempre foi um nó em minha cabeça. Li algumas coisas na net que só fizeram me confundir ainda mais. Então, finalmente encontro algo que me esclarece: uma narração curta, sem descrições além do necessário, sem isso, sem aquilo... Aí, veio você...
Ora, afinal, o que é um conto? Conto é aquilo que chamo de conto? Tenho interesse em desatar esse nó.
PS. Acabo de chegar do Fórum Escrivaninha. Li suas considerações sobre os contos e entendi claramente. Entretanto, ficarei contente se você estiver disposto a dar maiores explicações.
Valeu!
A questão Conto sempre foi um nó em minha cabeça. Li algumas coisas na net que só fizeram me confundir ainda mais. Então, finalmente encontro algo que me esclarece: uma narração curta, sem descrições além do necessário, sem isso, sem aquilo... Aí, veio você...
Ora, afinal, o que é um conto? Conto é aquilo que chamo de conto? Tenho interesse em desatar esse nó.
PS. Acabo de chegar do Fórum Escrivaninha. Li suas considerações sobre os contos e entendi claramente. Entretanto, ficarei contente se você estiver disposto a dar maiores explicações.
Valeu!
Tiago Lobo- Mensagens : 32
Data de inscrição : 25/03/2010
- Mensagem nº7
Re: Produção narrativa
Um conto é uma narrativa curta que tenciona causar uma grande excitação no leitor. A teoria aplica ao conto alguns elementos como brevidade, concisão, unidade de efeito, clímax e fio condutor ao desenlace. Todo conto é escrito pensando em seu final. Até o século passado ainda se tinha a idéia de que um conto precisa de um final surpreendente, mas isso mudou. Mas é um axioma que um conto precisa de um bom final.
Vou copiar aqui um post que fiz sobre opiniões de grandes autores sobre contos. Tu pode ver que as teorias sempre acabam em um ponto comum relacionado ao impacto que um conto deve ter no leitor.
Review of Twice Told Tales de 1842
O Poe tem um ensaio destacando a indispensabilidade da leitura de um conto em uma só tacada. Se não é lido de uma vez, o conto não funcionou. O autor deve conseguir com o mínimo de meios, o máximo de
efeito (falando aqui da Unidade de Efeito e Impressão, referente a extensão de um conto).
Tudo que é escrito em um conto precisa ter uma função, nada é gratuito ou dispensável.
Ele defendia a "Intensidade como aocntecimento puro", desprezando comentários, descrições acessórias, diálogos marginais e considerações posteriores que destroem a estrutura da narrativa curta (apesar de
servir bem ao romance).
The Philosophy of Composition 1846
Ele disserta sobre a teoria da Unidade de Efeito e de Impressão, aprofundando o conceito em referência a reação que o conto pretende causar no leitor.
— // —
Depois temos o Tchekóv, adepto das teorias do Poe, com sua "Teoria de Impressão Total" com "mínimo de enredo, máximo de emoção".
The philosophy of the short story
Brander Matthews defende que “um verdadeiro conto difere do romance devido à sua unidade de impressão”
De Poe a Kafka: para una teoria del cuento
Mário Lancelotti diz que o conto é a operação estrita do olho: atenção no estado puro. O menor desvio põe em perigo o incidente, que é o acontecimento e o efeito, salientando a necessidade de um alto nível
de atenção que o gênero exige para sua leitura.
Julio Cortázar
Resume o conceito de Poe, chamando o conto de uma verdadeira máquina de criar interesse. Aquilo que ocorre num conto, para Cortázar, deve ser intenso, entendendo-se intensidade como o palpitar da substância da narrativa, um núcleo animado inseparável e decisivo, em torno do qual orbitam os demais elementos, e diz: “no conto vai ocorrer algo, e esse algo será intenso ”
Assim como o romance se relaciona ao filme, à novela, agindo por acumulação, tendo um desenvolvimento de elementos parciais, para Cortázar o conto é como uma fotografia. De acordo com alguns fotógrafos, sua arte se apresenta como um paradoxo, que Cortázar considera também próprio do conto: o de recortar um fragmento da realidade, fixando determinados limites, mas de tal modo que esse recorte atue como uma explosão que abre de par em par uma realidade muito mais ampla.
Teoria y técnica del cuento
Imbert apresenta, da mesma forma, uma concepção do gênero relacionada à intensidade e à tensão, afirmando que a concepção de um conto implica um “esquema dinâmico de sentido”. A mente do contista
parte de uma idéia problemática em busca de soluções imaginativas. E esse rápido esquema intuitivo se reforça porque o contista está convidando as personagens que também saltam de uma tensão a uma
imediata distensão. Os impulsos de curto alcance na criação do conto imitam os impulsos espontâneos e espasmódicos da vida [...] No conto, a fantasia convida o leitor a se aventurar em uma ação possível.
De Poe a Piglia: em busca das teorias sobre o conto e o encontro de uma gramática do silêncio
Hemingway diz em sua teoria do iceberg : para o escritor, se o livro está escrito com carga suficiente de verdade, o escritor deve omitir partes dessa verdade, que, mesmo ocultada no interior do texto, é capaz de cooptar seu leitor de maneira convincente e segura. O não dito prevalece sobre o dito, o sugerido ganha estatuto de fato consumado: o leitor, se o escritor está escrevendo com verdade suficiente, terá uma sensação mais forte do que se o escritor declarasse tais coisas. A dignidade do movimento do iceberg é devida ao fato de apenas um oitavo de seu volume estar acima da água .
Diz, ainda, que o conto carrega um significado próprio, como unidade autônoma, mas ultrapassa esse significado quando rompe com seus próprios limites “com essa explosão de energia espiritual que ilumina
bruscamente algo que vai muito além da pequena e miserável história que conta.
—//—
Conto significa “Narração falada ou escrita de um acontecimento (fato)“
Um conto é uma narrativa curta, breve e concisa, onde o autor constrói a obra para subsidiar seu desfecho. Em um conto não é necessário situar o leitor, traçar linha cronológica e dissertar sobre a sociedade em que se encontra o protagonista. Um conto descreve um fato, um ‘causo, um acontecimento que leva ao desenlace, usando cada frase como um fio condutor para o clímax final. Então o cenário fica, aí, em segundo plano, com a situação-problema em evidência e/ou a investigação psicológica do personagem a protagonizar a narrativa.
Vou copiar aqui um post que fiz sobre opiniões de grandes autores sobre contos. Tu pode ver que as teorias sempre acabam em um ponto comum relacionado ao impacto que um conto deve ter no leitor.
Review of Twice Told Tales de 1842
O Poe tem um ensaio destacando a indispensabilidade da leitura de um conto em uma só tacada. Se não é lido de uma vez, o conto não funcionou. O autor deve conseguir com o mínimo de meios, o máximo de
efeito (falando aqui da Unidade de Efeito e Impressão, referente a extensão de um conto).
Tudo que é escrito em um conto precisa ter uma função, nada é gratuito ou dispensável.
Ele defendia a "Intensidade como aocntecimento puro", desprezando comentários, descrições acessórias, diálogos marginais e considerações posteriores que destroem a estrutura da narrativa curta (apesar de
servir bem ao romance).
The Philosophy of Composition 1846
Ele disserta sobre a teoria da Unidade de Efeito e de Impressão, aprofundando o conceito em referência a reação que o conto pretende causar no leitor.
— // —
Depois temos o Tchekóv, adepto das teorias do Poe, com sua "Teoria de Impressão Total" com "mínimo de enredo, máximo de emoção".
The philosophy of the short story
Brander Matthews defende que “um verdadeiro conto difere do romance devido à sua unidade de impressão”
De Poe a Kafka: para una teoria del cuento
Mário Lancelotti diz que o conto é a operação estrita do olho: atenção no estado puro. O menor desvio põe em perigo o incidente, que é o acontecimento e o efeito, salientando a necessidade de um alto nível
de atenção que o gênero exige para sua leitura.
Julio Cortázar
Resume o conceito de Poe, chamando o conto de uma verdadeira máquina de criar interesse. Aquilo que ocorre num conto, para Cortázar, deve ser intenso, entendendo-se intensidade como o palpitar da substância da narrativa, um núcleo animado inseparável e decisivo, em torno do qual orbitam os demais elementos, e diz: “no conto vai ocorrer algo, e esse algo será intenso ”
Assim como o romance se relaciona ao filme, à novela, agindo por acumulação, tendo um desenvolvimento de elementos parciais, para Cortázar o conto é como uma fotografia. De acordo com alguns fotógrafos, sua arte se apresenta como um paradoxo, que Cortázar considera também próprio do conto: o de recortar um fragmento da realidade, fixando determinados limites, mas de tal modo que esse recorte atue como uma explosão que abre de par em par uma realidade muito mais ampla.
Teoria y técnica del cuento
Imbert apresenta, da mesma forma, uma concepção do gênero relacionada à intensidade e à tensão, afirmando que a concepção de um conto implica um “esquema dinâmico de sentido”. A mente do contista
parte de uma idéia problemática em busca de soluções imaginativas. E esse rápido esquema intuitivo se reforça porque o contista está convidando as personagens que também saltam de uma tensão a uma
imediata distensão. Os impulsos de curto alcance na criação do conto imitam os impulsos espontâneos e espasmódicos da vida [...] No conto, a fantasia convida o leitor a se aventurar em uma ação possível.
De Poe a Piglia: em busca das teorias sobre o conto e o encontro de uma gramática do silêncio
Hemingway diz em sua teoria do iceberg : para o escritor, se o livro está escrito com carga suficiente de verdade, o escritor deve omitir partes dessa verdade, que, mesmo ocultada no interior do texto, é capaz de cooptar seu leitor de maneira convincente e segura. O não dito prevalece sobre o dito, o sugerido ganha estatuto de fato consumado: o leitor, se o escritor está escrevendo com verdade suficiente, terá uma sensação mais forte do que se o escritor declarasse tais coisas. A dignidade do movimento do iceberg é devida ao fato de apenas um oitavo de seu volume estar acima da água .
Diz, ainda, que o conto carrega um significado próprio, como unidade autônoma, mas ultrapassa esse significado quando rompe com seus próprios limites “com essa explosão de energia espiritual que ilumina
bruscamente algo que vai muito além da pequena e miserável história que conta.
—//—
Conto significa “Narração falada ou escrita de um acontecimento (fato)“
Um conto é uma narrativa curta, breve e concisa, onde o autor constrói a obra para subsidiar seu desfecho. Em um conto não é necessário situar o leitor, traçar linha cronológica e dissertar sobre a sociedade em que se encontra o protagonista. Um conto descreve um fato, um ‘causo, um acontecimento que leva ao desenlace, usando cada frase como um fio condutor para o clímax final. Então o cenário fica, aí, em segundo plano, com a situação-problema em evidência e/ou a investigação psicológica do personagem a protagonizar a narrativa.
Isie Fernandes- Mensagens : 516
Data de inscrição : 04/03/2010
Idade : 42
Localização : Bahia
- Mensagem nº8
Re: Produção narrativa
Obrigada, Tiago!
Hahaha... Acho que já tinha lido tudo isso. Mas ajudou bastante, porque agora estou discutindo na prática.
Então, é verdadeiro afirmar que se no romance o autor vence o leitor por pontos, no conto, o faz por nocaute... (como disse o escritor argentino Julio Cortázar)
Hahaha... Acho que já tinha lido tudo isso. Mas ajudou bastante, porque agora estou discutindo na prática.
Então, é verdadeiro afirmar que se no romance o autor vence o leitor por pontos, no conto, o faz por nocaute... (como disse o escritor argentino Julio Cortázar)
Tiago Lobo- Mensagens : 32
Data de inscrição : 25/03/2010
- Mensagem nº9
Re: Produção narrativa
Certíssimo!
Isie Fernandes- Mensagens : 516
Data de inscrição : 04/03/2010
Idade : 42
Localização : Bahia
- Mensagem nº10
Re: Produção narrativa
Hahaha!
Fui!
Fui!
Leonardo Schabbach- Admin
- Mensagens : 879
Data de inscrição : 20/02/2010
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Localização : Rio de Janeiro
- Mensagem nº11
Re: Produção narrativa
Isie Fernandes escreveu:Obrigada, Tiago!
Hahaha... Acho que já tinha lido tudo isso. Mas ajudou bastante, porque agora estou discutindo na prática.
Então, é verdadeiro afirmar que se no romance o autor vence o leitor por pontos, no conto, o faz por nocaute... (como disse o escritor argentino Julio Cortázar)
Gosto muito dessa frase. Eu particularmente adoro contos. Tenho melhorado bem escrevendo eles (até pouco tempo preferia me manter nos livros maiores e nos poemas, que é de fato o que mais gosto). E, batendo na mesma tecla aqui de novo, pra quem não conhece, leiam a coleção O Bairro, do Gonçalo Tavares. Comecem pelo livro o Sr. Brecht. Contos curtíssimos, mas geniais.
O próprio Saramago disse uns anos atrás (ao entregar um prêmio para o Gonçalo) que: "Gonçalo M. Tavares escreve tão bem aos 35 anos que dá vontade de lhe bater". É que o Saramago só começou a escrever mesmo depois de muito velho, então ele tem "raiva" do cara ser tão bom e tão cedo.
Isie Fernandes- Mensagens : 516
Data de inscrição : 04/03/2010
Idade : 42
Localização : Bahia
- Mensagem nº12
Re: Produção narrativa
Obrigada pela indicação, Léo! Vou procurar essa coleção, em particular.
Tiago Lobo- Mensagens : 32
Data de inscrição : 25/03/2010
- Mensagem nº13
Re: Produção narrativa
Ah, Isie, tem um livro que eu sempre indico pro pessoal dar uma estudada sobre contos: Teoria do Conto da Nádia Battella Gotlib.
Isie Fernandes- Mensagens : 516
Data de inscrição : 04/03/2010
Idade : 42
Localização : Bahia
- Mensagem nº14
Re: Produção narrativa
Boa, Tiago!
Assim aprendo de uma vez por todas como produzir bons contos.
Obrigada!
Assim aprendo de uma vez por todas como produzir bons contos.
Obrigada!
Leonardo Schabbach- Admin
- Mensagens : 879
Data de inscrição : 20/02/2010
Idade : 37
Localização : Rio de Janeiro
- Mensagem nº15
Re: Produção narrativa
Aqui tem um arquivozinho no word com 1 conto do Gonçalo de cada um dos livros do bairro que tinha sido lançados até um tempo atrás (dos 4 primeiros que saíram no brasil). Pode ser que ajude a decidir se vale ou não comprar Isie, antes que você compre e, de repente, não goste do estilo.
O Bairro
O Bairro
Isie Fernandes- Mensagens : 516
Data de inscrição : 04/03/2010
Idade : 42
Localização : Bahia
- Mensagem nº16
Re: Produção narrativa
Que ótimo, Léo! Muito obrigada mesmo.
Leonardo Schabbach- Admin
- Mensagens : 879
Data de inscrição : 20/02/2010
Idade : 37
Localização : Rio de Janeiro
- Mensagem nº17
Re: Produção narrativa
Disponha
Isie Fernandes- Mensagens : 516
Data de inscrição : 04/03/2010
Idade : 42
Localização : Bahia
- Mensagem nº18
Re: Produção narrativa
Poxa, Léo, realmente... Gostei não... EU AMEI!
Obrigada.
Obrigada.
Leonardo Schabbach- Admin
- Mensagens : 879
Data de inscrição : 20/02/2010
Idade : 37
Localização : Rio de Janeiro
- Mensagem nº19
Re: Produção narrativa
Pois é. E ele ainda é muito "novo". Eu tenho uma cacetade de livros dele, para mim é um dos melhores hoje e estará entre os grandes conforme passarem os anos. Em portugal o pessoal tem grandes expectativas em cima dele.
Isie Fernandes- Mensagens : 516
Data de inscrição : 04/03/2010
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Localização : Bahia
- Mensagem nº20
Re: Produção narrativa
Deixa entrar uma graninha que vou comprar os meus...
mayarend- Mensagens : 56
Data de inscrição : 15/04/2010
Idade : 37
Localização : RS
- Mensagem nº21
Re: Produção narrativa
Acho que cada autor tem seu estilo.
Tolkien é irritantemente prolixo. Descreve cada folha da árvore. Mas é maravilhoso.
Muitos autores poderiam ter escrito em um conto toda aquela história.. Mas ele decidiu por 3 livros
Não existe fórmula mágica. Existe estilo - e que a pessoa faça o melhor que pode, com seu estilo!
Tolkien é irritantemente prolixo. Descreve cada folha da árvore. Mas é maravilhoso.
Muitos autores poderiam ter escrito em um conto toda aquela história.. Mas ele decidiu por 3 livros
Não existe fórmula mágica. Existe estilo - e que a pessoa faça o melhor que pode, com seu estilo!
Tiago Lobo- Mensagens : 32
Data de inscrição : 25/03/2010
- Mensagem nº22
Re: Produção narrativa
Eu já não acho o Tolkien prolixo, o acho chato em certos pontos de seus livros. Mas adoro a obra, no entanto muita coisa do estilo narrativo dele não me agrada. Principalmente em o Silmarilion.
mayarend- Mensagens : 56
Data de inscrição : 15/04/2010
Idade : 37
Localização : RS
- Mensagem nº23
Re: Produção narrativa
Talvez prolixo não seja a palavra correta, mas ele definitivamente enrola MUUUITO mais do que precisaria...
Eu gosto do livro, mas, realmente, no Silmarillion ele se passou terrivelmente. Um livro que precisa de árvores genealógicas pra entender, fica complicado :S
Eu gosto do livro, mas, realmente, no Silmarillion ele se passou terrivelmente. Um livro que precisa de árvores genealógicas pra entender, fica complicado :S
Leonardo Schabbach- Admin
- Mensagens : 879
Data de inscrição : 20/02/2010
Idade : 37
Localização : Rio de Janeiro
- Mensagem nº24
Re: Produção narrativa
Ele é muito descritivista, realmente. Agora, Silmarillion é muito mais um livro de informações do que um livro de fato literário, por isso é bem difícil de ler mesmo. Estranhamente, dizem que é a obra favorita do Tolkien, o livro de que ele mais gostava.
Elton das Neves- Mensagens : 12
Data de inscrição : 15/04/2010
Idade : 57
Localização : BAIXADA SANTISTA
- Mensagem nº25
Re: Produção narrativa
Nossa Tiago, sinto muito amigo, sei que teve o melhor das intênções, mas não consegui entender bulufas do que seria realmente um conto. Quantas palavras e explicações dificeis e complicadas, e de uma complexidade inútil, tenho certeza que literatura é um gênero da arte muito mais simples do que este emaranhado de teorias sobre o que seja um conto, crônica,artigo, romance, poesia ou seja lá que gênero literário estejamos falando. Será que estes doutores da lei da literatura sabiam do que estavam falando?Se sabiam, e acho que um deles como Edgar Alan Poe sabia, eles com sua linguagem academica não consiguiam como não conseguem até hoje fazer alguém entender oque é um conto. Porque não chega alguém e de forma simples, clara, consisa e nos explica oque torna um texto um conto?Bom, vai ver que o problema está comigo, talvez eu seja ignorante demais para alcançar a compreenção deste emaranhado de palavras para explicar oque é um gênero de textos tão curtos e consisos. Acho que teoria literária deveria servir para nos eslarecer e não nos confudir. Um dia o messias chegará e com uma linguagem que nos atinja e nos ilumine nos falará de literatura como ela deve ser falada. Até lá, terermos de ler calhamaços de explicações confusas. Abraços literários.
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Leia o blog literário do Anjo das Letras: http://eltondasneves.blogspot.com
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